Nascido na antiga Desterro, Hercílio Luz estudou no Rio de Janeiro e seguiu para a Europa, de onde voltou engenheiro para assumir cargos e seguir a carreira política
Há 100 anos, neste dia 20 de outubro, morria o governador considerado com o olhar mais técnico e pragmático que Santa Catarina já teve. Hercílio Pedro da Luz, nascido em 29 de maio de 1860 e falecido em 1924, foi engenheiro, político e três vezes governador do Estado. Ocupou cadeiras no Conselho Municipal de Florianópolis (atual Câmara de Vereadores), foi senador e deputado federal.
Primeiro governador eleito pelo voto direto, sancionou, dias depois da posse, em 28 de setembro de 1894, a mudança do nome Desterro para Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto, o famoso “Marechal Mão de Ferro”, o mesmo que deu ordens para sufocar a Revolução Federalista de 1893, resultando no sangrento episódio dos 185 fuzilados na Chacina da Ilha de Anhatomirim.
Ponte, obras de saneamento e linha telegráfica marcam administrações
Reconhecido como uma liderança visionária, compreendeu a importância da infraestrutura e da modernização para o desenvolvimento de Santa Catarina. Entre tantas homenagens – nome de aeroporto, clube e estádio de futebol, ruas, avenidas, praças – tem como maior honraria emprestar seu nome à ponte, obra iniciada no início dos anos 1920, e que deveria se chamar Ponte da Independência. A majestosa Hercílio Luz, principal cartão-postal de Florianópolis, acabou por ser uma homenagem ao governador que adoeceu e morreu dois anos antes, sem poder atravessar a ligação da Ilha com o Continente, inaugurada em 1926. Meses antes, uma réplica em tamanho menor foi construída e exposta na Praça XV, no Centro de Florianópolis, para que ele pudesse ver como ficaria a obra que marcou a sua trajetória.
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A administração também ficou marcada pela obra de canalização do Rio da Bulha, atual Avenida Hercílio Luz, e então chamada Avenida do Saneamento, no Centro de Florianópolis, sendo considerada a primeira grande obra de esgotos em Santa Catarina. Sob seu governo, em 1986, foi instalada e inaugurada na região do Contestado (nome dado ao conflito entre 1912 e 1916 no Planalto Norte) a linha telegráfica entre Joinville e São Bento do Sul. Foi de Hercílio também a tentativa de criar o primeiro sistema de iluminação pública em Florianópolis.
Formado em engenharia civil com estudos no Rio de Janeiro e na Bélgica, ele assumiu o cargo de Juiz Comissário de Terras, em Lages, entre 1885 e 1886, quando retornou ao Brasil. Dois anos mais tarde, foi nomeado engenheiro de Obras Públicas da Província de Santa Catarina, exercendo a função até 1891, quando se tornou chefe da Comissão de Terras de Blumenau.
Família abastada e com gosto pela política
Hercílio nasceu numa família de posses e que gostava de política. O avô materno, Joaquim Xavier Neves, foi deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina por sete vezes, presidente interino da província catarinense e eleito presidente da República Juliana, ainda que não tenha tomado posse. Um tio, João Carlos Xavier Neves, também exerceu mandato de deputado provincial.
Filho de Joaquina Anania Neves da Luz, descendente de bandeirantes, e de Jacinto José da Luz, comerciante de origem açoriana, Hercílio sofreu um golpe ainda menino: o pai morreu quando ele tinha nove anos. Hercílio fez os primeiros estudos em Desterro e os preparatórios no Rio de Janeiro, na época Capital do Império, onde ingressou na Escola Politécnica. Existem divergências entre autores sobre sua formação superior e o local realizado.
Evaldo Pauli, autor da obra “Hercílio Luz, governador inconfundível”, cita o curso de Engenharia de Artes e Manufaturas pela Universidade de Liège, na Bélgica. Enquanto Walter Piazza faz referência ao curso de Agronomia pela Universidade de Gembloux, também no país europeu. Para Djanira Maria Martins Andrade, que escreveu “Hercílio Luz: uma ponte integrando Santa Catarina”, ele teria se formado na Universidade de Gembloux, mas no curso de Ciências Agronômicas.
Dois casamentos e 19 filhos
Hercílio casou-se duas vezes e teve muitos filhos. A primeira vez foi com Etelvina Cesarina Ferreira da Luz, com quem teve 14 filhos, entre eles, Abelardo Luz, deputado estadual e federal por Santa Catarina, homenageado com nome de município na região Oeste, e Alfredo Felipe da Luz, igualmente deputado na Assembleia Legislativa catarinense.
Em 1915, um ano após o falecimento de Etelvina, Hercílio seguiu um costume comum à época: casou-se com a cunhada, Corália dos Reis Ferreira, irmã mais nova da primeira esposa, com quem teve outros cinco filhos. Hercília Catharina da Luz foi a última das filhas a morrer, em setembro de 2011. Conhecida como Ciloca, ela esteve por muitos anos à frente do Cartório Luz.
Relembre alguns pontos de SC que levam o nome de Hercílio Luz
Ponte Hercílio Luz, Florianópolis;
Aeroporto Internacional de Florianópolis;
Estádio Hercílio Luz, na cidade de Itajaí;
Hercílio Luz Futebol Clube, clube profissional de Tubarão;
Memorial Hercílio Luz, interior do Museu Casa de Campo de Hercílio Luz, em Rancho Queimado;
Nome de avenidas, ruas, praças de municípios catarinenses;
Palacete (casarão) Hercílio Luz (Pátio Milano), na Avenida Mauro Ramos, em Florianópolis.
Fonte: Centro Histórico de Santa Catarina e NSC