Técnica consiste na liberação de mosquitos machos que não picam nem transmitem doenças para o acasalamento; fêmeas não chegam à fase adulta
Os primeiros mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia começaram a ser produzidos em Joinville, no Norte catarinense. Nesta quinta-feira (8), os primeiros ovos de Wolbitos, como são chamados os mosquitos que possuem a bactéria, evoluíram e agora já são larvas. A técnica consiste na liberação dos Aedes aegypti machos que não picam nem transmitem doenças para o acasalamento.
Nos próximos dias, de acordo com informações da prefeitura de Joinville, estas larvas passarão pelo processo até se tornarem mosquitos e estarem prontos para serem soltos. A operação é feita na Biofábrica do Método Wolbachia, localizada no bairro Nova Brasília.
O processo é feito por uma equipe técnica coordenada por colaboradores do World Mosquito Program (WMP) e operacionalizada por agentes de combate a endemias da vigilância ambiental da Prefeitura de Joinville.
O trabalho segue o cronograma previsto em Joinville e a previsão é que a soltura dos primeiros mosquitos ocorra na segunda quinzena de agosto.
Ainda na fase de preparação para a implantação do método, foram coletados mosquitos Aedes aegypti em Joinville e enviados para o Rio de Janeiro. É de lá que, periodicamente, são enviados os ovos dos Wolbitos para a cidade catarinense.
Quando eles chegam no município, ficam armazenados na Biofábrica. O processo inicia na sala de “preparação”. É neste espaço que os ovos de Wolbitos são eclodidos em um equipamento automatizado. Depois que os ovos são colocados nesse equipamento, eles eclodem em aproximadamente 45 minutos.
As larvas são transferidas para um segundo equipamento para serem contadas e divididas em grupos. Elas então vão para a “Sala de Larvas”, onde recebem alimento para desenvolvimento.
Quando se tornam pupas, estágio entre larva e mosquito adulto, elas voltam para um equipamento automatizado para sexagem e então são separadas em grupos menores de mosquitos fêmea e macho. As pupas vão para a “sala de tubos” e eclodem em até 48 horas, quando se tornam mosquitos alados e estão prontos para a soltura.
Os Aedes com Wolbachia em contato com os Aedes aegypti selvagens, que já circulam em Joinville, vão se reproduzir e assim, consequentemente, ocorre a troca de uma população de mosquitos por outra, que não transmitem doenças como dengue, chikungunya e zika vírus.
A biofábrica conta também com a sala DML, onde são armazenados materiais; um almoxarifado; uma sala de limpeza, onde os equipamentos são higienizados; e uma copa.
Até nesta quinta-feira (8), Joinville já havia registrado 77 mortes por dengue. Santa Catarina, por sua vez, já soma 326 óbitos.
O Estado está longe de atingir a meta de vacinação contra a dengue. De acordo com dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC), Santa Catarina já recebeu 137.928 doses do imunizante, mas somente 73.874 doses foram aplicadas, entre primeiras e segundas doses, o que equivale a 28% do público-alvo. A meta é chegar aos 90%.
Método da Austrália em Joinville
Entre as ações para combater a dengue está o método Wolbachia, criado na Austrália, usado em 14 países e um desejo antigo de Joinville. O projeto é feito em parceria com o Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e World Mosquito Program (WMP).
A técnica consiste na liberação de mosquitos machos que não picam nem transmitem doenças para o acasalamento. No entanto, devido a uma alteração genética dos mosquitos liberados, as descendentes fêmeas não chegam à vida adulta, reduzindo as chances de transmissão para as futuras gerações.
Além de Joinville, outras cinco cidades estão recebendo o método nesta fase: Londrina e Foz do Iguaçu (PR); Uberlândia (MG); Presidente Prudente (SP) e Natal (RN). Em etapas anteriores, a tecnologia já foi aplicada nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).
Este método de controle das arboviroses foi desenvolvido pelo World Mosquito Program (WMP), na Austrália, e atualmente está presente em mais de 20 cidades de 14 países. Além disso, os dados de monitoramento revelam que os Wolbitos estão se estabelecendo em níveis muito bons nos territórios.