Santa Catarina tem crescido na produção de lúpulo, ingrediente essencial na produção de cerveja. Na safra 2022/23, o Estado foi líder na produção no Brasil, com 21,8 toneladas colhidas. Também é o estado com a maior área cultivada: são 34 hectares, conforme dados da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo).
A produção no Brasil tem crescido: em 2021, foram colhidos 18 toneladas de lúpulo; em 2022, 29 toneladas. Em 2023, foram 88 toneladas. O aumento nos dois últimos anos foi de 203%.
Além de Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro também tem produções de lúpulo.
Ainda conforme a Aprolúpulo, o preço médio do quilo do lúpulo produzido no Brasil é de R$ 223, mas pode variar de R$ 100 a R$ 400. Tudo depende da qualidade e da forma da venda. A maioria das plantas é comercializada em forma peletizada (ou seja, granulada) e embalada. Mas elas podem ser vendidas em flor fresca.
Pesquisa para melhorias na produção em SC
Para melhorar a produção de lúpulo, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) tem, desde 2020, uma parceria com a Ambev para implantação de lavouras de lúpulo em Santa Catarina.
Entre o final de fevereiro e o início de março, esta parceria deu resultado, com a colheita feita em um hectare de uma propriedade rural de São Joaquim, Serra catarinense, entre o final de fevereiro e início de março. Essa é a segunda safra da lavoura e os resultados são animadores.
— Pôde-se observar uma grande diferença positiva na produtividade na área, que recebeu aporte adicional de iluminação artificial, com lâmpadas de LED por três horas por dia, por cerca de 80 dias — descreve Filipe Souza Oliveira, extensionista rural do Escritório Municipal da Epagri em São Joaquim.
Até agora, segundo o extensionista, o retorno foi de 30% do investimento inicial, de R$ 100 mil. A lavoura fica na localidade de Monte Alegre, a cerca de 1,2 mil metros de altitude.
Segundo a Epagri, apesar de ser um dos maiores consumidores de cerveja do mundo, praticamente todo o lúpulo usado na produção é importado. É daí que nasceu a parceria com a Ambev, a maior cervejaria do Brasil.
Nesta parceria, foram identificados produtores interessados para implantar a cultura. As mudas foram cedidas pela cervejaria, que também contribuiu com assistência técnica nos manejos das safras.
De acordo com Filipe, no Planalto Sul catarinense predominam as pequenas propriedades rurais, com características familiares. Elas desenvolvem diferentes atividades econômicas para composição da renda, como fruticultura, olericultura, pecuária, produção de queijo artesanal, turismo rural, apicultura, coleta de pinhão, entre outros.
Essa diversificação de cultivos e busca de alternativas para composição da renda familiar foi uma das características que levou Epagri e a Ambev a escolherem a região para os primeiros testes com cultivo de lúpulo.
Desafios
— O lúpulo é uma planta trepadeira muito vigorosa, que exige solos bem drenados, corrigidos, adubados, em áreas planas, com irrigação, e iluminação artificial por meio da instalação de lâmpadas de led, para expressar seu maior potencial produtivo — explica o extensionista.
Os desafios para cultivo da planta no Planalto Sul, no entanto, vão além disso. O controle de plantas daninhas, a concorrência de mão de obra com a maçã no momento da colheita e a inexistência de agroquímicos registrados para os controles fitossanitários da cultura são outros entraves a serem superados pelos potenciais produtores.
Somado ao alto custo das mudas, a uma inexistência de uma cadeia para o beneficiamento da produção, além da necessidade de dados dos teores de alfa e beta ácidos e resinas contidos na lupulina (que dão o aroma e amargor da cerveja).
Por isso, a Epagri ainda não recomenda o cultivo em São Joaquim. A empresa “prefere aguardar mais algumas safras para estudar a viabilidade financeira da produção de lúpulo”.
O que é o lúpulo
O lúpulo é o responsável por dar à cerveja o amargor e o aroma à cerveja. O Humulus lupulus é uma planta trepadeira que se desenvolve favoravelmente em climas frios.
Mesmo tendo as plantas “macho” e “fêmea”, só as femininas são de interesse para a produção de cerveja. São nas flores que são formadas as glândulas de lupulina, que contém resinas e óleos, usadas no preparo da bebida.
Fonte: Kassia Salles/NSC
Foto: Dayse Oliveira Miguel