Em Ibirama, vizinhos de uma idosa denunciaram condições precárias em uma residência onde vivem mais de 200 gatos. A equipe do projeto Cadeia Para Maus-Tratos está acompanhando a situação e buscando soluções para o acúmulo de animais na área.
Neusa Pasta, integrante do projeto, relatou que os gatos formam uma colônia, procriando e fazendo suas necessidades em residências e terrenos vizinhos, causando forte mau cheiro. A casa está localizada na região central de Ibirama, próxima ao Rio Hercílio e a órgãos públicos.
Segundo Neusa, a idosa apresenta comportamentos indicativos de transtorno de acumulação. A quantidade de gatos é alarmante: muitos estão espalhados sobre casas e áreas verdes, e alguns aparentam doenças de pele e deficiência.
“Quando passam pela área, as pessoas se surpreendem com a quantidade de gatos. Quando têm fome, vão em busca de comida nas casas, e, se encontrarem acesso, acabam se reproduzindo nos sótãos”, explicou Neusa. A família da idosa tentou oferecer ajuda, se dispondo a custear exames dos animais para adoção responsável, mas a mulher impediu sua entrada na residência e cortou comunicação com eles.
Neusa destacou que a idosa, embora ocasionalmente busque ajuda veterinária, não controla a reprodução dos gatos, que podem ter várias ninhadas por ano. Ela ainda alertou para o risco de zoonoses, que podem surgir se os animais não forem tratados adequadamente.
Denúncias e monitoramento
A situação já é monitorada por protetores locais, que têm feito várias solicitações aos órgãos municipais responsáveis pela fiscalização e bem-estar animal. Em fevereiro de 2023, o caso foi discutido na Câmara Municipal.
No dia 11 de outubro, Neusa e um veterinário voluntário tentaram verificar as condições dos gatos, mas foram impedidos de entrar. Em quase dois anos, a equipe buscou dialogar com a Prefeitura, mas não houve progresso.
A assessoria da Prefeitura de Ibirama informou que não possui base legal para agir no momento, mas está trabalhando com a 1ª Promotoria de Justiça e o Conselho do Bem-Estar Animal para encontrar alternativas. O promotor de Justiça já realizou diligências no imóvel, pois agentes de Vigilância Sanitária e ONGs não têm autorização para entrar.
Denúncia ao MPSC
A equipe do Cadeia Para Maus-Tratos enviou um ofício ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), denunciando a precariedade da situação e apresentando um plano para lidar com acumuladores de animais. O MPSC instaurou um procedimento preliminar para investigar o caso e planeja abrir um Inquérito Civil em breve.
Neusa também mencionou uma emenda de R$ 100 mil destinada à castração e controle populacional de gatos, que está parada desde maio. Ela tentou contato com a secretaria de administração, mas não obteve resposta.
A Prefeitura afirmou que o recurso foi recebido apenas três dias antes do início do período eleitoral e que um projeto de lei foi enviado à Câmara para autorizar o repasse a uma entidade responsável pelos serviços.
A ONG Quem Ama Castra tem um termo de colaboração de R$ 50 mil com o município e está preparando um novo plano de trabalho para um contrato adicional de R$ 100 mil.
Preocupação com doenças
O forte odor não é a única preocupação dos vizinhos. Neusa está em contato com moradores afetados pela situação e alertou para riscos de doenças, como sarna e outros problemas de pele. Recentemente, houve relatos de surtos de escabiose em escolas da região, incluindo uma creche próxima à casa da idosa.
“A possibilidade de a sarna ter se espalhado pelos gatos é real. Um vizinho está com um problema de pele sem diagnóstico, e estamos tentando encaminhá-lo para exames especializados”, disse Neusa.
A equipe do Cadeia Para Maus-Tratos continua monitorando a situação, na expectativa de encontrar uma solução junto às autoridades competentes.