As fortes chuvas que inundaram municípios catarinenses durante a primeira quinzena de outubro têm uma característica em comum com outros oito desastres registrados nos últimos 49 anos em Santa Catarina: a presença do fenômeno El Niño. A condição traz mais chuva para o Sul do país e, consequentemente, episódios que vão desde inundações até a formação de tornados.
Além das chuvas de outubro, que deixou municípios do Vale do Itajaí alagados por mais de dez dias, também tiveram influência do El Niño os tornados que atingiram Guaraciaba, em 2009, e Xanxerê, em 2015, no Oeste do Estado, e as inundações de maio de 1992.
Porém, outro fenômeno também é apontado como um dos principais influenciadores dos maiores desastres registrados no Estado nas últimas quatro décadas. Dados da Defesa Civil de Santa Catarina apontam que ao menos 11 casos foram influenciados pelo La Niña, que é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e também pode causar chuva intensa, mas em episódios menores de tempo.
“Nos anos de La Niña há menos chuva. Para que os eventos consigam quebrar os índices, eles têm que ser extremos; Já no El Niño, nós temos dias seguidos de chuvas e é o que temos observado: chuvas muito recorrentes que vem causando esses desastres nos últimos dias”, explica Frederico Rudorff, da Coordenadoria de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Santa Catarina.
As inundações de novembro de 2008 no Alto Vale, que terminaram com 135 mortos e dois desaparecidos, ocorreu durante a influência do La Niña na atmosfera. As enchentes de 2011, que deixaram parte dos municípios da região embaixo d’água, também ocorreram em anos em que o fenômeno intervém no tempo.
El Niño pode atingir pico nos próximos meses
Conforme a Defesa Civil, a previsão é que o El Niño siga interferindo na atmosfera ao menos até o início do inverno do próximo ano. Uma das preocupações, inclusive, é com os próximos meses, já que há projeções de que o fenômeno atinja seu pico, com intensidade moderada a forte, entre novembro e janeiro.
“Em uma análise estatística pelo tipo de El Niño, que está em atuação, novembro e maio seriam os meses mais críticos e com probabilidade de eventos. No entanto, o que esperávamos para novembro acabou acontecendo em outubro. Então, ainda não é possível ter a precisão de como deve ser no próximo mês”, explica o coordenador.
A informação, inclusive, já era monitorada em 20 de setembro, quando o assunto foi discutido no encontro “Radar Educa: El Niño, conceito, impactos no Sul do Brasil e previsão para os próximos meses”, que teve como objetivo trazer projeções de como seria a primavera no Estado.
Cidades embaixo d’água e rodovias interditadas
Desde 4 de outubro, 145 municípios catarinenses registram ocorrências em virtude das chuvas, como alagamentos, deslizamentos e granizo. Ao menos 133 estão em situação de emergência e dois decretaram estado de calamidade pública: Rio do Sul e Taió, ambas cidades localizadas no Alto Vale do Itajaí.
Além disso, até a manhã de terça-feira (17), seis mortes foram confirmadas em decorrência das chuvas, conforme a Defesa Civil. Mais de 26 mil pessoas seguem desabrigadas.
Outro transtorno é relacionado ao trânsito, já que 27 rodovias possuem bloqueios ou interdições parciais devido às chuvas, tanto em estradas federais quanto em estaduais.
A previsão é de que a chuva continue em Santa Catarina nos próximos dias. Nesta quarta-feira (18), os maiores volumes de chuva devem ser registrados no Extremo Oeste, Oeste, Meio-Oeste, Planalto Norte e Litoral Norte. A condição se mantém para a quinta-feira (19).
Ainda segundo a Epagri/Ciram, na sexta-feira (20) o tempo será instável, com pancadas de chuva a qualquer hora do dia entre o Extremo-Oeste e o Litoral Sul, principalmente nas áreas que fazem divisa com o Rio Grande do Sul. Já nas demais, haverá sol com aumento de nuvens.
Crédito: NSC
Foto: Novembro de 2008/Inundações no Alto Vale causadas pelo La Niña/Divulgação Defesa Civil